Fake News: Era da informação enfrenta o seu maior desafio
As fake news se tornaram um dos assuntos mais discutidos na era da informação
As Fake News têm se tornado pauta desde o surgimento do termo, em 2016. Neste período, acontecia a corrida eleitoral nos Estados Unidos e diversas notícias falsas foram espalhadas a respeito da candidata Hillary Clinton. A proliferação de notícias falsas nas mídias tem aumentado cada vez mais e as redes sociais e o fácil acesso à internet viraram catalizadores deste processo. Ninguém está isento deste desserviço social. Jovens, adultos, idosos, religiosos, intelectuais e até políticos já compartilharam alguma informação falsa.
O jornalista, psicólogo e responsável pelo site Clube do Jornalismo, William Messias, informou sobre os meios mais comuns das Fake News se espalharem. “Mídia digital e redes sociais. Podemos exemplificar com sites/portais periféricos, sem relevância e desconhecido do grande público. Nas redes sociais, nos perfis/páginas que buscam apenas audiência e quantidade de seguidores por meio de conteúdos sensacionalistas. E, claro, estão se propagando rapidamente via WhatsApp”.
No Brasil, a política é um dos principais alvos das Fake News, que prejudicam políticos, partidos, desorganizam campanhas eleitorais e alteram o princípio da informação. Um dos casos mais recentes e polêmicos envolveu o presidente Jair Bolsonaro. Ele compartilhou no Twitter uma postagem afirmando que a Ceasa (Centrais Estaduais de Abastecimento) de Belo Horizonte (MG) estava desbastecida, e culpou os governadores por isso. Porém, uma equipe da CNN visitou o local e mostrou que o armazém continua funcionando normalmente e está abastecido, comprovando que a informação dada pelo presidente era falsa. Após ser desmentido, Bolsonaro deletou o post.
Um outro caso de Fake News que chamou a atenção foi publicado pelo ex-ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra. A informação, também compartilhada no Twitter, dizia que a Holanda não precisou de isolamento social para combater o coronavírus. “A HOLANDA que não fez quarentena e não fechou uma loja, já passou do pico da epidee (sic) está indo para o fim da epidemia”, publicou o ex-ministro. O post também continha um diagrama dos casos no país. A publicação atingiu mais de 6 mil pessoas, porém também foi comprovada como falsa.
O funcionamento do mercado das Fake News
Este tipo de notícia movimenta um grande mercado em todo o mundo, e por trás dele estão pessoas com grandes poderes aquisitivos e políticos. A disseminação destes conteúdos é feita por profissionais da área de comunicação, entre eles, jornalistas, publicitários e mercadólogos. Além disso, a presença de profissionais de tecnologia e policiais ajuda na proteção dos produtores das Fake News.
Os que alimentam este mercado, também adquirem e-mails e números telefônicos de milhares de pessoas para espalharem as notícias. Nas redes sociais, perfis falsos são criados para divulgar a informação e dar credibilidade a ela, até esta chegue a um número determinado de pessoas reais.
As produtoras de Fake News investem valores altos na proteção do conteúdo, para que este não seja rastreado. Equipamentos eletrônicos chegam a ser descartados após a produção das notícias. Além disso, o lugar onde são elaboradas as Fake News, é alterado com frequência para que os agentes não sejam encontrados facilmente.
Por qual motivo as pessoas espalham notícias falsas?
A falta de curiosidade para saber se a notícia é verídica ou não, contribui muito para a disseminação de notícias enganosas. Muitos leitores observam apenas as manchetes das matérias, que muitas vezes são sensacionalistas. O Digitalks, em parceria com o Opinion Box, realizou uma pesquisa e levantou alguns números sobre a reação das pessoas com as Fake News.
Ao todo, 2.016 pessoas foram entrevistadas, sendo 48% do público formado por homens e 42% por mulheres. Um dos dados que chamou atenção na pesquisa, foi o que revelou que 8% das pessoas já espalharam notícias mentirosas de propósito. Entre as justificativa sdesta ação estavam, o fato de querer que a notícia fosse verdadeira, de ter achado engraçado e a falta da certeza de que a informação era falsa.
Quando questionados sobre o fato de terem presenciado algum parente ou amigo espalhando Fake News, 79% das pessoas disseram que sim. Destas, 46% avisaram reservadamente que a notícia era falsa, 38% anunciaram publicamente, por meio de comentários, que a informação estava errada e 15% afirmaram não ter tomado nenhuma atitude.
A jornalista, produtora, comunicadora e social mídia da Rádio Liberdade Caruaru, Claudiana Silva, explicou o motivo pelo qual é tão comum a proliferação de notícias falsas. “As pessoas têm buscado argumentos para justificar as hipóteses nas quais acreditam e não para as quais não acreditam. A mente das pessoas está predisposta a aceitar o que é agradável e compatível com o que as convém. A informação pode ser falsa, mas se for compatível com o pensamento da pessoa que a leu rapidamente, ela vai confiar na informação lida e repassar para outras pessoas”.
Consequências das Fake News
A difusão de notícias mentirosas pode prejudicar os leitores e os assuntos abordados de diversas formas. A difamação da imagem de pessoas é muito comum na internet e as Fake News são mais um método para realizá-la.
Quando indagado sobre a influência destas notícias falsas, o jornalista William Messias respondeu: “Trocaria o termo “influencia” por “prejudicaria”. A Fake News tem como objetivo distorcer fatos e notícias. Muitas vezes, vem para prejudicar pessoas e conteúdos. Mas, falando em influência, influencia no comportamento das pessoas, muitas vezes gerando pânico. Neste contexto, relembro o caso do município do litoral paulista, no Guarujá (SP), antes da Copa do Mundo de 2014. Naquela época, por conta de uma Fake News, uma mulher foi morta por linchamento de diversas pessoas. Tudo começou por conta do compartilhamento do retrato falado de uma suposta mulher parecida como ela, nas redes sociais, que estaria realizando sacrifícios com crianças, popularmente conhecida como magia negra ou macumba”.
Outro caso de Fake News que repercutiu bastante no Brasil aconteceu em 2018. Naquele ano, o país registrou o maior surto de febre amarela no país desde a década de 1980. Contudo, diversas notícias falsas acerca das consequências de vacinas foram espalhadas. Os textos e mensagens enviadas pelas redes sociais informavam que as vacinas podiam causar autismo e meningite. Em entrevista ao portal G1, a epidemiologista franco-americana Laurence Cibrelus, que coordena o combate à febre amarela dentro da Organização Mundial da Saúde (OMS), informou que estas notícias falsas foram responsáveis pela redução de pessoas nos postos de saúde em 2018. A falta de vacinação contra a doença causou 237 mortes naquele ano.
Como citado anteriormente, as Fake News existem há muito mais tempo do que o termo. Afinal, não foi preciso a internet para que notícias falsas da Escola Base, de São Paulo, ganhassem a atenção da população. No ano de 1994, duas mães acusaram a escola por desconfiarem que seus filhos estavam sofrendo abusos sexuais na instituição, e chamaram a imprensa. A investigação ainda não tinha chegado ao fim, porém diversas manchetes e notícias passaram a ser veiculadas na mídia, destruindo a imagem da escola, seus funcionários e os donos. No fim, a investigação comprovou a inocência dos acusados, porém, era tarde demais para retirar o bombardeiro de informações falsas da mente das pessoas.
Por: Adelmo Júnior e Daniele Noberto